sexta-feira, 13 de abril de 2012

Xícaras

Seus dedos úmidos percorrem a borda das xícaras, duas, postadas lado a lado sobre a mesa de madeira descascada.
Sweet Jane e seus tempestuosos orbes fitam o conteúdo da primeira xícara: o líquido negro e esfumado, refletindo suas sobrancelhas finas erguidas em uma expressão indecifrável.

Indecifrável. Não há sinônimos.

A tempestade (ou apenas os olhos de Jane, como preferir) volta-se para a segunda xícara: não tão escuro, não refletindo suas sobrancelhas com precisão. Incerto.
Jane, ao observá-los, sente o sabor do primeiro. O amargo percorre-lhe a garganta, roça em sua língua, explode no céu de sua boca. Ela enxerga a plateia que acena para que ela o beba.

Pressionando-a. Limitando-a.

E se ela preferisse a segunda?
E se não preferisse nenhuma das duas?

Não há mais porque protelar.

Cansada. Perdida. Sweet Jane abandona suas xícaras, sua mesa.

Quer mesmo é abandonar tudo.

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