quarta-feira, 20 de julho de 2016

Eleanor (Rigby?)

Continua pálida, a única cor presente no rosto é o lilás abaixo dos olhos mal dormidos.

Atrás da montanha de papéis da escrivaninha da editora do jornal está Sweet Jane, seus cachos de uva castanhos quase não existem mais, os olhos de tempestade fitam o vazio – mas isso todos já sabem.
Que vazio ela fita dessa vez?

Jane sente cheiro de jasmim e arroz.

– Jane? - Eleanor tenta encará-la por detrás dos amontoados, Duchess Eleanor tem os cabelos tão rubros quanto morangos recém colhidos, lisos e curtos até as orelhas, sardas do nariz as bochechas e salto-faz-toc-toc.

Chegou à lateral da mesa, com as mãos postas na cintura rechonchuda.

Sweet Jane ergue os olhos abaixando a xícara de café que tinha pousada nos lábios. Move a cabeça em sinal de que ouve.

– Tem algo pronto? – Eleanor.

– Não. – Jane.

– Mas, já faz duas semanas... – Alto.

– Eu sei. – Baixo.

Eram como inverno e primavera, lua e sol, devastação e calmaria.

Diretrizes de corpos femininos completamente diferentes

corpo e mente.

Eleanor coça os cabelos ralos, bufa como touro, leva os olhos de jabuticaba ao teto do recinto.

 – Preciso que termine isso, Jane, falo sério.

Sweet Jane estava n’um beco,
ou encruzilhada que era fitar as curvas da mulher ali, em toda realeza que era, Jane se levanta da cadeira, abre os braços de alfinete e joga-se nos ombros de Duchess Eleanor, soluça, freneticamente, ombros tremem

olhos como cachoeira.  

– Ja...ne... – Eleanor sacode os ombros do fantasma aos prantos. – Escute aqui, ei, pare. Escute.

Quanto de sentimento transparece quando não temos mais estrutura de nós mesmos? Todos aqueles que relutam para não sair.

O quanto passou desde a sala de colegial.

anos.

Tudo bem,
Jane. Escute aqui.

Tome aqui teu cigarro.

Tua gastrite na xícara.

Tua ansiedade em pílula.
está tudo bem. Escute aqui. Está me ouvindo?

Quem?  

Todas essas pessoas, todas essas aí

sozinhas.
Isoladas,
abandonadas,
olhe pra elas, Jane.

– Eleanor..

– Estou aqui, Jane, estou aqui, por todas elas

por todas as pessoas solitárias

estou aqui por você.


Nenhum comentário:

Postar um comentário